Ano: 2005
Duracão: 106 min
Diretor: Tim Burton
Música - Danny Elfman
Johnny Deep - Willy Wonka
Freddie Highmore - Charlie Bucket
David Kelly - Vovô Joe
Deep Roy - Oompa-Loompa
NOSSA NOTA: 9,8 TAK
Excepcional no filme: Cenário, modo como foi dirigido e atuação nas personagens, principalmente de Johnny Deep.
Frase marcante: "Candy doesn't have to have a point. That's why it's candy." - Charlie Bucket
"Good morning, starshine; The earth says hello!" - Willy Wonka
"Can you imagine Augustus-flavored, chocolate-coated Gloop? Ew, no one would buy it." - Willy Wonka
"Everything in this room is eatable. Even I am eatable. But that is called cannibalism, my dear children, and is in fact frowned upon in most societies." - Willy Wonka
Análise crítica do filme Charlie and the Chocolate Factory, de Tim Burton.
por Mr. Raccoon
Quando se fala em regravar um clássico do cinema, os fãs sempre ficam apreensivos; mas então, quando descobrem que é Tim Burton quem vai dirigir a obra, eles se acalmam; e quando sabem que Johnny Deep interpretará a personagem principal, Willy Wonka, até se entusiasmam. E isso não se deve ao fato de que Tim é o único capaz de reproduzir um filme antigo, mas sim de que ele não o reproduz: ele desenvolve a história do seu ponto de vista. Burton não tinha como objetivo fazer uma cópia exata do original, mas sim um filme baseado no clássico livro de Road Dahl, que já tinha ido para as telonas em 1971 com o título Willy Wonka & the Chocolate Factory, com Wonka representado pelo excelente Gene Wilder. Interessante que esse título antigo dá mais ênfase a Willy, enquanto o do novo filme o dá a Charlie, o menino pobre que ganha uma excursão pela misteriosa fábrica; mas ao assistir às duas obras, temos a impressão de que o mais recente é o que mais chama atenção no dono da fábrica e no seu passado e infância.
Como sempre, a estética dos filmes de Burton é sempre esplêndida, e em C&CF somos privilegiados ao vermos a visão do diretor sobre as descrições de cenários feitas por Dahl. Fontes de chocolate e um jardim em que tudo é comestível impressionam não só as crianças, mas também os adultos e idosos. E não é só cenário colorido que encanta: o modo como a Londres da época foi retratada é frio, seco e lindo, como nos é abreviado na casa torta de Charlie.
E como se o filme já não tivesse pontos bons o bastante, ele é também um musical; pelo menos pela parte dos Oompa-Loompas, os trabalhadores exóticos da fábrica. As músicas cantadas por eles nos remetem aos Beatles, ao heavy metal e ao rap, cada uma de forma bem diferente e deliciosamente cômica – ainda mais com as danças discretas e divertidas de Deep.
Deep, na verdade, foi o maior mérito do filme, em minha opinião: a cada cena ficamos mais e mais hipnotizados pelo excêntrico e perturbador Willy Wonka, dono da fábrica, que nos encanta com seu cabelo liso, voz suave, pele pálida quase-cinza, seu chapéu e, principalmente, sua personalidade meio irritada e egocêntrica. Algumas dessas características nos levam imediatamente a Michael Jackson, mas Johnny Deep nega que se inspirou nele e afirma que sua atuação foi mais baseada em Howard Hughes, o famoso aviador e produtor de cinema. E o humor presente no filme se resume nesta personagem, que, apesar de ser hilária, é mal compreendida, como em sua piada a respeito do canibalismo. E Burton soube escolher bem quem deveria interpretar Wonka, pois não consigo imaginar um ator melhor que Johnny Deep para representar alguém tão bizarro de forma tão formidável; faltam-me palavras para descrever o resultado.
As crianças também fizeram papéis excelentes, com créditos ao figurino e maquilagem, que tornaram Philip, Julia, Jordan e Annasophia, respectivamente, em Augustus, Veruca, Mike e Violet, estereótipos das crianças mal educadas, mimadas e irritantes. Já Freddie Highmore interpreta o educado, humilde e honesto Charlie, e, devo dizer, de forma excelente; suas expressões faciais conseguem ser cativantes e atrair nosso afeto sem serem irritantes como a maioria das crianças reais. E David Kelly como o vovô Joe consegue desenhar um sorriso na face de qualquer um, com sua simplicidade, inocência, honestidade e aparência frágil. Todos os quatro avôs são encantadores, desde a distraída Georgina até mesmo o impaciente George, e é simplesmente engraçada e trágica a cena em que vemos todos deitados em uma mesma cama tomando sopa de repolho.
Porém, para mim, a melhor seqüência do filme é a dos créditos iniciais, quando nos é apresentada magicamente o interior da fantasiosa fábrica e no final nos deparamos com a distopia londrina, representada pela simples moradia da grande família de Charlie. Burton sempre faz um belo trabalho nos CI’s.
Mas acredito que o segredo de Charlie and the Chocolate Factory foi a intimidade entre Burton e a personagem Willy Wonka, dando excentricidade dupla para o filme; ou melhor, tripla, já que Deep também faz parte. Toda a cantoria, o cenário, as atuações, a direção, tudo contribui para que o resultado seja o mais mágico já atingido pela parceria Burton-Deep.
Ano:1962
Duração: 129 min
Direção: Robert Mulligan
Gregory Peck - Atticus Finch
Robert Duvall - Arthur Radley
Mary Badham - Jean Louise "Scout" Finch
Philip Alford - Jem Finch
Brock Peters - Tom Robinson
NOSSA NOTA: 8.7 tak
Excepcional no filme: A retratação fiel às condições da época presente no filme (1938)
Frase marcante: "Folks call me Dill."
Análise crítica do filme To Kill a Mockingbird, de Robert Mulligan.
por Mr. Raccoon
“O filme é repleto de clichês que só são acrescentados ao filme para o ganho de Oscar® e fãs sentimentais”, dizem diversos críticos pela internet. Mas o que muitos não entendem é que o que vemos hoje como cliché um dia já foi novidade; temos que nos lembrar que, em 1962, todas as características presentes em To Kill a Mockingbird estavam sendo criadas e ainda não havia se tornado repetitivas. Na trama, um pai solteiro advogado chamado Atticus sustenta dois filhos, Scout e Jem, com a ajuda de uma empregada negra chamada Calpurnia na racista região sul dos EUA da década de 1930. Os problemas começam quando Atticus, que é branco, decide defender no tribunal um negro acusado de estupro de uma branca. A história foi baseada no livro de mesmo nome escrito por Harper Lee.
Devo dizer que Gregory Peck foi uma ótima escolha para o papel do advogado: o ator adquiriu feições inocentes e honestas para o filme, e se entregou completamente à personagem. E as crianças da história, Dill (o menino estranho que passa as férias de verão em Maycomb), Scout e Jem me surpreenderam na atuação; dificilmente aprecio quando os pequenos ganham papéis de importância em filmes, com exceção de alguns, claro. Mas em To Kill a Mockingbird foi diferente, e senti muita naturalidade na maior parte das ações dos atores mirins.
Créditos sejam dados à abertura do filme, que, junto com a trilha sonora composta por Elmer Bernstein, encanta com sua simplicidade. É interessante assistir à entrevista com Elmer, pois ele explica que antes de compor tal peça, ele se colocou no lugar de uma criança no piano: tocando tecla por tecla, lentamente. A fotografia em preto-e-branco do filme, que lhe rendeu um Oscar, é certamente ótima, apesar de não chegar ao ponto de ser excelente.
Mas a grande injustiça cometida pelo AFI[1]foi considerar esse filme o melhor drama de tribunal. Poderia citar mais dez filmes que têm um melhor desenvolvimento de caso do que o de Mockingbird; compreendo que o filme foi um dos primeiros a discutir o racismo contra os negros, mas houve tantos pontos que foram mal apresentados e perdidos durante o julgamento, que não me admira o seu desfecho. E, apesar da excelente atuação do negro acusado, o ator Brock Peters, a moça que o acusa tem um desempenho horrível: a atriz, Collin Paxton, disse que ela tentou representar que a personagem estava se sentindo presa e culpada, mas, na verdade, o resultado foi a representação de uma retardada mental. O caso é muito bonito e comovente, mas desaponta. E ouso dizer que até Miracle on 34th Street, com sua trama simples e inocente, tem um caso melhor apresentado e desenvolvido do que o de Mockingbird.
Robert Duvall, ainda no início de sua carreira, interpreta Boo Radley, o vizinho de Scout com problemas mentais, que é temido e admirado pelos dois filhos de Atticus e por Dill. Foi espetacular o muito como Duvall foi maquilado, com seu cabelo branco e aparência frágil – e o cabelo foi idéia de Robert, não da equipe de produção -, e seria ótimo se ele tivesse tido mais tempo de tela. Porém, com o caso do tribunal, Boo foi esquecido, e Mulligan apenas o retoma no final do filme.
O título To Kill a Mockingbird é instigante, e passamos o tempo inteiro atentos para a relação dele com a história. Em um momento, Atticus explica que matar um sabiá (mockingbird, em inglês) é o maior pecado de todos, pois ele é um pássaro que só faz o bem; mais tarde, a menina Scout faz a associação disso com o que Boo Radley faz no final do filme, mas de forma não muito criativa. Entendi o que ela quis dizer, e a carapuça até serviu, mas acho que podiam ter preparado algo melhor para a ocasião. Não posso dizer nada em relação ao livro de Harper Lee, pois não o li e não sei se nele as coisas acontecem de forma diferente, mas se esse fosse o caso, o roteirista Horton Foote podia ter escrito algo melhor que encaixasse na trama.
Admito que esse foi um filme que me deixou intrigado: eu não conseguia chegar a uma opinião final sobre ele, e pelo que conclui após uma pesquisa, foi o mesmo com algumas outras pessoas. Mas cheguei à conclusão que, apesar de gostar do gênero do filme, este em específico não me agradou tanto; porém, admito a importância dele na indústria cinematográfica como um dos primeiros do tipo. O livro de Lee foi escrito de forma jornalística, e seria melhor se o filme tivesse sido feito da mesma maneira, mas então ele não agradaria o público de 1962. Sucesso de público em primeiro lugar, não?
Chow Yun-Fat - Li Mu Bai
Michelle Yeoh - Shu Lien
Zhang Ziyi - Jen Yu
Chang Chen - Lo
NOSSA NOTA:8.8 tak
Excepcional no filme:Trilha sonora, a fotografia e a coordenação das lutas.
Frase marcante:"Sharpness is a state of mind." - Li Mu Bai
Análise crítica do filme Crouching Tiger, Hidden Dragon, de Ang Lee.
por Mr. Raccoon
Pessoas que correm de bambu para bambu e voam de telhado para telhado desafiando a gravidade em um filme fariam com que ele fosse ridicularizado por muitos até a década de 1980. E, na verdade, até mesmo na época de lançamento, em 2000, foi criticado por vários espectadores céticos ao extremo. Porém Wo hu zang long é muito mais do que efeitos especiais: ele possui toda uma trama com romance, aventura, drama e que trata da honra, lealdade e dever. O problema é que muitos outros filmes tratam da mesma coisa, o que não é um diferencial desse específico do diretor Ang Lee.
O roteiro não foi muito bem trabalhado, e vemos a história da filha (Jen Yu, interpretada pela excelente Zhang Niyi) de um governador que não gosta da vida presa e quer ser independente. Então, apenas para diversão, ela faz coisas erradas e sai em busca de aventuras. Do outro lado temos o Mestre Li Mu Bai (interpretado pelo também ótimo Chow Yun-Fat), que, apesar de ser um guerreiro renomado, se cansou da violência e quer descansar. Entendo a profundidade da história, que foi baseada no livro de Wang Du Lu, mas ela poderia ter sido abrangida de forma melhor, dando um pouco mais de complexidade ao enredo. Um ponto extra é que, como ele foi escrito em mandarim, os diálogos nas cenas também foram gravados de tal maneira, proporcionando um toque especial para o filme.
A trilha sonora composta pelo famoso Tan Dun é esplêndida e a cada cena romântica ou de uma explosiva luta nos deparamos com a magnitude da música envolvente e perfeitamente selecionada para cada ocasião. Indubitavelmente o Oscar pela trilha sonora foi muito merecido. E o que fez a diferença foi a preferência por um oriental para ser responsável pela música, já que a história do filme se passa na China; se um americano, por exemplo, compusesse as peças, mesmo sendo elas do estilo chinês, não nos encantariam como o fizeram.
Porém a fotografia desse filme é o que mais chama atenção: paisagens delirantes da Antiga China da Dinastia Ching reconstituídas pela equipe de produção e lutas marciais coordenadas pelo gênio Woo-Ping Yuen (The Matrix) cativam quem às assiste durante o tempo integral. Cada batalha física travada entre as personagens é como um gracioso ballet ensaiado especialmente para uma cena; como disse o diretor Ang Lee: “Descobri que um filme de artes marciais é diferente de artes marciais”, significando que, em uma luta real, a beleza não importa (apesar de ainda assim existir – sempre digo que a arte marcial oriental é algo lindo), e em um filme é a dança que faz a diferença. Lee correu um grande risco ao dirigir Wo hu zang long: as filmagens das cenas de luta poderiam ficar confusas devido ao movimento da câmera e à velocidade em que tudo acontece, mas ele conseguiu superar esse obstáculo. Apesar de algumas dessas cenas até se passarem à noite, somos capazes de acompanhar precisamente cada movimento dos atores sem ficarmos tontos – algo que muitos outros diretores não conseguem atingir em seus filmes.
Quando Li Mu Bai e Jen Yu começam a voar, várias pessoas dão risada, como se, no enredo do filme, aquilo fosse ridículo, mas elas devem se lembrar de que a história é uma lenda, e de que os guerreiros Wudan seguem um manual e treinam incansavelmente para atingirem o máximo da leveza de seus corpos, e isso dá uma explicação aceitável para o ato tão ridicularizado. Muitos esquecem que praticamente todos os filmes possuem algo impossível ou muito difícil de acontecer, e é isso o que os torna especiais e cativantes.
Crouching Tiger, Hidden Dragon é uma obra singular, pois cada pessoa que a assiste é presa por uma característica específica, como o romance, a ação ou o drama. E apesar do que já disse a respeito do roteiro, acredito que as outras qualidades do filme superam esse ponto que nem chega exatamente a ser um defeito. Esta aí um filme que mudou para sempre a visão dos ocidentais a respeito dos filmes de luta asiáticos, que até pouco tempo atrás eram tão injustamente menosprezados.
Ano: 1959
Duração: 78 min
Diretor/Escritor/Produtor: Ed Wood
Vampira - Vampire Girl
Tor Johnson - Inspector Daniel Clay
Bela Lugosi - Convidado especial como Ghoul Man
John Breckinridge - Ruler
Gregory Walcott - Jeff Trent
NOSSA NOTA: 4.5 tak - Analisado como um filme sério 8.5 tak - Analisado como filme trash
Excepcional no filme: A pobreza nos efeitos especiais e na continuidade temporal do roteiro. E tambpem a crítica diferente à sociedade humana.
Frase marcante: Paula Trent: "I've never seen you in this mood before. " Jeff Trent: "I guess that's because I've never been in this mood before."
Análise crítica do filme Plan 9 from Outer Space, de Ed Wood.
por Mr. Raccoon
“O pior filme de todos os tempos”: esta aí uma afirmação equivocada a respeito de Plan 9 from Outer Space, do revolucionário Wood. Falhas na produção, na edição, crateras no roteiro e erros de continuidade fazem a reputação da obra-prima de Edward, mas elas encobrem um enredo muito interessante e uma idéia diferente das outras. Ouso dizer que o filme merecia um Oscar pela originalidade do roteiro, apesar de ser também digno do prêmio de piores efeitos especiais.
A verdade é que, comparado com os outros filmes produzidos na época, P9OS não foi exatamente um filme bom; na era de obras como Sunset Boulevard, Citizen Kane e Casablanca, um roteiro preenchido com um pobre romance e aparente descuidado com o cenário surpreendeu os espectadores. Mas, para refletir: será que se a atuação fosse boa e os efeitos especiais fossem profissionais o filme teria sido aclamado pelo público? Acredito que não. A simples mistura de alienígenas, zumbis e vampiros em um mesmo filme era incomum na década de 1950, e algo do gênero com certeza assustaria quem o assistisse.
O azar de Ed Wood foi que ele deu outros motivos para que o criticassem, e motivos além de justos. Vemos cenas que são claramente filmadas de dia – e não com a aplicação da técnica nuit américaine – e de repente nos deparamos com uma à noite; em um momento, policiais estão em um carro e, logo em seguida, se encontram em outro bem diferente; Tor Johnson entala em sua cova e necessita de ajuda para sair; e discos voadores que incidem sombras sobre espaço sideral esculacham de vez a produção.
Porém, pelo menos no meu ponto de vista do século XXI, o resultado final de todas essas características é um filme divertido de se ver, justamente devido à sua simplicidade e por conhecermos tantas paródias já feitas sobre ele. Até porque, desde o lançamento de P9OS, e, principalmente, nos últimos anos, já foram realizados centenas de filmes piores do que os de Ed Wood, e que exigiram muito mais dinheiro. É difícil odiar um filme que foi feito por um homem tão apaixonado pelo cinema, um filme que sob a pele esconde traços que fazem de uma obra algo bom.
A trilha sonora do filme é, com certeza, algo marcante, e até mesmo espetacular. Ela ficou famosa entre os amantes da ficção científica e foi muito copiada com o passar do tempo. Mas a idéia do roteiro é que realmente se destaca: não digo por causa do uso de alienígenas que roubam covas e transformam – não sei como – mortos em vampiros, que na verdade nunca morrem, mas sim da crítica à sociedade humana. Os visitantes do espaço sideral dizem que os humanos, com sua violência e imaturidade, irão eventualmente acabar com a galáxia[1], pois não sabem controlar seu poder. O que não é algo impossível de acontecer, já que uma nação está sempre em busca de mais e mais força. E é lindo quando a alien diz que, assim como um país luta contra o outro da Terra para defender seu direito de vida – ou até mesmo por coisas mais fúteis -, um planeta também deve ter o direito de fazer o mesmo com outro. E então Wood finaliza seu filme de forma bem realista e depressiva.
Ed não errou quando disse que esse seria o seu Citizen Kane, mas infelizmente ele não estava vivo para ver o anti-sucesso que sua produção atingiu.Acredito que devemos apreciar mais esse cult do cinema e olhar mais fundo para o seu lado bom, que, ironicamente, é seu lado ruim.
[1] Ela diz “universo”, mas foi um equívoco, já que a luz solar, que é o que causaria a destruição, na verdade não atinge o universo inteiro, mas sim apenas nosso sistema solar.
Johnny Deep - Ed Wood
Martin Landau - Bela Lugosi
Sarah Jessica Parker - Dolores Fuller
Patricia Arquette - Kathy O'Hara
Bill Murray - Bunny Breckenridge
NOSSA NOTA: 10 tak
Excepcional no filme: Cenário e verossimilhância com todos os detalhes da história real.
Frase marcante: "Pull the string!; pull the string!"
Análise crítica do filme Ed Wood, de Tim Burton.
por Mr. Raccoon
Tim Burton sabe como fazer algo diferente. A estética de seus filmes é tão única que uma obra dele é reconhecida com apenas alguns minutos de filme. E em Ed Wood não é diferente; nele, podemos conhecer a história real do considerado – injustamente -“o pior cineasta de todos os tempos”[1], Edward Davis Wood, Jr. (1924 – 1978). No decorrer do filme acompanhamos Ed dirigindo seu primeiro filme, Glen or Glenda?, até sua obra-prima, Plan 9 from Outer Space.
O filme possui um cenário maravilhoso e um tom humorístico, apesar de ter também um lado dramático. Ed Wood era um sujeito presunçoso, porém no sentido otimista da palavra, e considerava cada improvisação de seus atores uma atuação esplêndida, devido ao realismo que elas acrescentavam no filme. Sua paixão pela lã angorá e sua cômica e irônica inspiração em Orson Welles, diretor do consagrado melhor filme de todos os tempos Citizen Kane, também está presente na retratação de Wood; e Burton soube colocar todos esses detalhes de forma clara, direta e engraçada em sua obra.
Nas primeiras cenas do filme a câmera se aproxima lentamente de uma casa sombria, abandonada e entra pela janela, parando perto de um caixão se abrindo. Logo aí, e não sei se foi feito de propósito, há uma paródia das cenas inicias de Citizen Kane, que foi quem inventou esta técnica de aproximação. E a partir daí presenciamos a bizarra vida do diretor revolucionário tentando gravar seus filmes. A cada vez que assistimos a Ed dirigindo uma cena, podemos ver que Tim Burton fez tudo para que o cenário se assemelhasse ao real, e até mesmo alguns atores, como o lutador de luta livre Tor Johnson e o aterrorizante Bela Lugosi, são muito parecidos com as personagens da vida real.
Algo interessante no filme é que ele foi rodado inteiramente em preto-e-branco, apesar de ele ter sido filmado na década de 1990; o que foi um toque bom do diretor para nos lançar a idéia de que a história do filme se passa na década de 1950. Os cortes de cena são perfeitos, e todo o cenário do filme foi preparado cuidadosamente, com destaque no excelente trabalho feito na Spook House: o jogo entre sombras e os padrões de luz profusos, os ângulos confuso, fortes, as referência a Edvard Munch e o estilo noir empregado acentuam o ambiente assustador do lugar. E, como outras coisas citadas acima, o expressionismo alemão tão adorado por Burton está presente, desde o cenário e a maquilagem até a atuação de Johnny Deep, que, por sinal, foi incrível. Vale comentar que a feição já maquiada de Deep nesse filme nos remete a de Freder, protagonista de Metropolis, de Fritz Lang. É interessante que o responsável pelo cenário do filme estava tão apaixonado pelo filme que acrescentou até certos detalhes mínimos, porém não inúteis, como, por exemplo, a abundância de discos nas cenas, sejam eles lâmpadas ou OVNI’s.
Martin Landau, que interpreta o eterno Bela Lugosi, ator que viveu o primeiro Drácula no cinema, também marcou na atuação. O trabalho dos maquiladores foi essencial ao resultado, mas Landau incorporou terrificamente à personagem, com uma atuação engraçada, mas que honra e que nos faz ter um afeto pelo problemático ator decadente, e é digna da aprovação do próprio Bela.
Outro ponto importante a ressaltar é a trilha sonora, que nos remete a filmes como Plan 9 from Outer Space e outros do gênero. O instrumento utilizado nesses filmes foi o theremin, que é o que causa o clássico som alien. E para fazer jus à sua capacidade de perfeição, a equipe de Tim Burton completou o difícil trabalho de achar um desses belos instrumentos musicais especialmente para a gravação da trilha sonora de Ed Wood.
Sempre gosto também quando um filme, mesmo possuindo uma longa duração como este (127 minutos), faz com que ela passe despercebida, pois o enredo é tão cativante que nos deixa até tristes quando chega ao fim. Essa é uma qualidade difícil de se encontrar em filmes hoje em dia, que duram 90 minutos e são feitos apena para o ganho de dinheiro.
Ao unirmos todos os elementos supracitados temos como resultado um filme que não é apenas mais um do tipo, mas é também uma homenagem carinhosa que, apesar de ser humorística, não ridiculariza o homem que mudou para sempre o cinema: Ed Wood.
[1] Como publicado no livro “The Golden Turkey Award”.
Gloria Swanson - Norma Desmond
William Holden - Joe Gillis
Erich von Stroheim - Max von Mayerling
Nancy Olson - Betty Schaefer
C. B. DeMille - Himself
NOSSA NOTA:10 tak
Excepcional no filme:A maneira como retrata sem medo a verdadeira Hollywood, e como consegue nos cativar durante cada minuto, fazendo com que perdamos a noção do tempo. Sem contar que é uma obra-prima atemporal e fabulosa em cada detalhe.
Frase marcante:"I am big; it's the pictures that got small."
Análise crítica do filme Sunset Boulevard, de Billy Wilder.
por Mr. Raccoon
Sunset Boulevard, ou Crepúsculo dos Deuses, em português, é basicamente um filme que retrata quão inescrupulosas as pessoas em Hollywood podem ser. Elas são gananciosas, insensíveis, muitas vezes desonestas e egoístas, e infelizmente é por causa disso que seus filmes – alguns – resultam em algo bom. Ou fantástico, como foi o caso de Sunset Blvd., que desde o título já nos diz muito sobre o filme: o crepúsculo das estrelas, o fim de uma história.
Billy Wilder, o diretor e co-roteirista, soube escolher perfeitamente quais atores usar e de que modo usá-los. Afinal, é difícil imaginar alguém que pudesse se sair melhor que Gloria Swanson no papel de Norma Desmond. Mae West e outras atrizes foram consideradas para a personagem, mas Gloria foi aquela que se encaixou maravilhosamente; ela tinha semelhanças com o papel que interpretaria: Swanson era uma atriz famosa em outrora que não fazia mais tanto sucesso, assim como Norma. Claro, Gloria não era a diva lunática que representava, mas estava em decadência e certamente estava carente da atenção do público.
No filme, William Holden interpreta Joe Gillis, um roteirista falido e endividado que é contratado por Norma Desmond para revisar e melhorar um roteiro escrito por ela, que deveria ser filmado pelo célebre C. B. DeMille. Com o tempo, Joe se dá conta de que Norma está apaixonada por ele, ou melhor, obcecada, e percebe que está preso à loucura de Desmond.
Logo na abertura do filme nossa atenção já é chamada por um homem em uma piscina. O modo como Wilder filmou a cena é brilhante, e foi uma das poucas vezes que ele valorizou tanto a imagem, já que ele dava mais importância ao roteiro. A cena foi filmada com um espelho debaixo d’água, que estava à 40º, para que houvesse certa distorção na imagem. Genial.
William Holden estava passando por uma fase delicada em sua carreira na época do filme. Havia se passado dez anos desde o filme que o fez famoso, Golden Boy, que o lançou como um galã promissor. E Sunset Blvd. foi um bom retorno para ele; graçasa Billy Wilder, por ter enxergado em Holden o típico americano corrompido.
Mas Erich von Stroheim, o mordomo Max, é a personagem mais perfeitamente selecionada para o filme. Erich havia sido um grande diretor nas décadas de 1920 e 1930, mas sua carreira estava arruinada graças ao filme Greed. E ele já conhecia Gloria Swanson, pois era ela quem estrelava outro filme de Erich chamado Queen Kelly, filme que havia arruinado dessa vez a carreira de Gloria – e é este o filme que Norma e Joe estão a assistir no cinema privado da mansão.
A maneira como todas as cenas foram filmadas é incrível. Wilder, apesar de, como já dito, valorizar o roteiro mais do que a imagem, parecia se importar muito com o modo como as cenas nos seriam apresentadas. Tomemos como exemplo a cena da sessão de cinema particular de Norma: no momento em que ela se levanta, a luz vinda do projetor quebra o escuro e ilumina o busto da diva como se ela fosse uma deusa em busca de vingança. O que pode parecer exagerado, mas não o é.
De fato, a cena descrita acima é também memorável por causa da trilha sonora. E a trilha, composta pelo gênio Franz Waxman, chama a atenção durante todo o filme. Waxman era um amigo antigo de Wilder, já que os dois tinham fugido da Alemanha de Hitler anos antes do filme, e talvez a amizade e intimidade entre os dois possam ter contribuído para o resultado final da música, que rendeu um Oscar a Franz.
O figurino é, como tantas outras coisas neste filme, algo para se reparar. Edith Head foi a responsável por ele, e se empenhou para que as roupas fossem perfeitas em cada cenas. Basta notar no modo como Desmond se veste: de forma chamativa, cheia de glamour e classe, representando a excentricidade da personagem.
Mas a seqüência mais atemporal, marcante e fabulosa é, sem dúvida, quando Norma Desmond desce as escadas. A trilha que ouvimos chama-se “The Return”, e a cena se passa em câmera lenta, enquanto os fotógrafos, policiais e jornalistas permanecem quase parados, estupefatos, apreciando com surpresa, encanto e dó a antiga deusa em sua insanidade. É ali que Wilder consegue, com sucesso, consumar sua masterpiece, nos mostrando o efeito causado pela síndrome pós-Hollywood. E enquanto Max dirige a cena e a diva aguarda por seu close, a cena se esvanecia. “All right, Mr. DeMille, I am ready for my close”.
Evan Rachel Wood - Lucy
Jim Sturgess - Jude
Joe Anderson - Max
Dana Fuchs - Sadie
NOSSA NOTA - 7 tak
Excepcional no filme: O modo como fez algo nunca feito antes em um filme: um musical dos Beatles - Yellow Submarine e Help! foram estrelados pelos próprios integrantes da banda.
Frase marcante: Exceto pelas frases das músicas, não achei nada tão marcante. "So learn French. Learn French or die."
Análise crítica do filme Across the Universe, de Julie Taymor.
por Mr. Raccoon
Um ator que assemelha-se com o Paul McCartney. Duas personagens que chamam Jude e Lucy (Hey, Jude e Lucyin the SkywithDiamonds). Don’t Let me Down sendo cantada em um telhado. E mais uma quantia considerável de “coincidências”. A diretora Julie Taymor é, com certeza, uma fã dos Beatles, mas parece ter forçado as músicas no filme, como que as espremendo no enredo.
O resultado é uma história feita de um emaranhado de músicas e situações temporárias criadas apenas para que uma canção pudesse ser encaixada. Porexemplo, I am the Walrus, cantada por Bono: as personagens entram em um ônibus, vão para um lugar desconhecido e saem de lá tão repentinamente quanto como chegaram.
Confesso que há certas situações em que a música realmente cai bem e é coerente com a história, mas poucas vezes. É sério, se começassem a cantar Nowhere Man quando a irritante Prudence diz que veio de lugar nenhum, eu não sei se conseguiria continuar vendo o filme. Mas eles não cantaram, então a cena não ficou ruim. E mais, aparentemente, Prudence só foi escalada para este filme para que os protagonistas pudessem cantar “Dear Prudence”. E dificilmente colocar outras pessoas para cantar músicas do Beatles vai resultar em algo bom. Gosto da voz do Jim Sturgess, que interpreta Jude, e certas músicas ficaram razoáveis, mas I am the Walrus está inaceitável.
Sem contar que era de se esperar, e estava torcendo para que isso não acontecesse, apesar de eu amar a música, que eles cantariam Hey, Jude. Mas, quando começaram a cantar, percebi que a montagem ficou bem encaixada. Até, claro, quando todas as crianças começam a andar com ele, naquele clima forçado de felicidade forjada.
Porém o filme acabou se saindo bem melhor do que eu pensava, apesar de ainda não ser ótimo. Créditos à Julie Taymor, que pôde colocar situações como a Guerra no Vietnã, o movimento regido por Martin Luther King Jr. e os hippies de forma bem regida no enredo – na maioria das vezes.
E, apesar de algumas situações terem sido criadas um pouco fora do contexto, as músicas interpretadas durante tais cenas caem perfeitamente. E vale acrescentar que detalhes como o fato de Jude vir de Liverpool, da maçã verde que ele corta nos remetendo a gravadora Apple e outros já ou não mencionados, ajudam a dar um clima e uma estética melhor para o filme.
Resumindo, não diria que o filme não deve ser visto, pois não sinto que perdi os 126 minutos da minha vida ao vê-lo. O que é outro ponto que poderia ser um defeito - a demora -, mas que não é. Como fã dos Beatles, foi um prazer ouvir suas músicas durante duas horas.
Ano: 2003
Duração: 102 min
Direção/Roteiro: Sofia Coppola
Bill Murray - Bob Harris
Scarlett Johansson - Charlotte
Giovanni Ribisi - John
Anna Farris - Kelly
NOSSA NOTA - 10 Tak
Excepcional no filme:Trilha sonora, cenário e o roteiro simples e encantador.
Frase Marcante:Bob diz: "I don't wanna leave." Charlotte responde: "Then don't. Stay here with me. We'll start a jazz band."
Análise crítica do filme Lost in Translation, de Sofia Coppola.
por Mr. Raccoon
Certos filmes deixam uma sensação inexplicável quando terminam. Fazem você criar um afeto por ele e pelas suas personagens que às vezes te deixa sem fôlego. Lost in Translation é um filme desses. Bill Murray e Scarlett Johansson interpretam papéis simples e sensíveis, que marcaram a carreira de ambos.
Bill Murray é Bob Harris, um ator decadente que está de viagem em Tóquio, Japão, para gravar um comercial de uísque. Aparentemente, ele está passando por uma crise de meia-idade. Scarlett interpreta Charlotte, uma jovem recém-graduada em filosofia, em Yale, e casada há apenas dois anos com um fotógrafo de celebridades, que está no Japão para tirar fotos de uma banda de rock. Ela também está passando por problemas de identidade, tentando achar a essência de sua alma. E ambos Bob e Charlotte estão passando por uma crise no casamento, e a diferença é que, após 25 anos de casado, Harris tem mais experiência no assunto.
Graças à enorme diferença no fuso-horário, as duas personagens têm dificuldade para dormir, e passam quase a noite inteira acordados. Então, em uma noite no bar do hotel em que os dois estão hospedados, eles começam a se relacionar. Primeiramente de forma distante, e depois em outra noite vão se aproximando, até atingirem o nível da amizade. Ou um maior.
Quando Bob e Charlotte se encontram, eles parecem se conhecer há anos; eles possuem uma ligação forte, que Sofia consegue nos fazer sentir. Isso que é tão especial nesse filme: o modo como o romance entre os dois acontece. Um romance sem sexo e outras coisas banais. E o espectador pode imaginar a dor de pensar na idéia de os dois se separarem.
A trilha sonora também é algo notável. Sempre me agradou em filmes quando uma música está tocando em uma cena – e não digo música ambiente, e sim posta na edição – e quando o cenário muda, a música recebe um corte seco e pára. Mas não é isso o melhor da trilha: as músicas que tocam no bar, cantadas por uma bela ruiva de meia-idade ou por um homem mais velho, encaixam perfeitamente na situação em que Bob e Charlotte estão. Por exemplo, I am so into you, baby, que toca durante um silêncio tomado apenas pelos olhares trocados entre os dois, é perfeita.
E o cenário é magnífico. Afinal, Tóquio é uma cidade linda tomada por luzes e neon nas áreas urbanas e regida por um silêncio relaxante nas regiões um pouco mais afastadas do centro. Achei interessante como Sofia conseguiu retratar bem como os atores se encantaram com a megalópole: quando Charlotte está no metrô, observando todas as pessoas, ou quando passeia nos famosos jardins, vemos como Scarlett estava verdadeiramente impressionada com tudo.
Durante os 105 minutos de filme a estória se passa tão naturalmente que quem assiste pensa que tudo não durou mais de 40 minutos, ou seja, apesar de não ter toda a ação convencional, o espectador não fica cansado. E o enredo ainda possui o extra de ter uma leve crítica à indústria hollywoodiana de cinema, que esquematizou os filmes atuais. Anna Farris interpreta uma atriz que está promovendo um filme típico de ação, daqueles tão óbvios que é possível adivinhar as falas dos atores. Farris é, no filme, o retrato exato das estrelas jovens que querem chamar atenção para si mesmas. E há uma possível crítica a Keanu Reeves, também.
O título também é interessante. Um escritor uma vez disse que nenhuma tradução é perfeita, e que algo sempre se perde nela. O título do filme: perdido na tradução. Sim, em português soa um tanto quanto estranho. Mas pode significar que aquilo que os protagonistas estavam buscando, aquilo que lhes faltava, seria perdido quando eles se separassem, na volta para os EUA. E a brincadeira com translation seria devido ao fato de eles estarem no Japão, país que fala outra língua que, para eles precisa de tradução. E translation pode ser empregada aqui como a mudança, o retorno para o país de origem das personagens. Talvez, não sei.
Gostaria de poder discutir também o final, pois é o melhor que eu poderia (se é que eu poderia) imaginar para um filme como este. Não costumo sentir em filmes o que senti nesse, e o recomendo imensamente para aqueles que apreciam também filmes sem violência e efeitos especiais; para aqueles que reconhecem que, para um filme ser bom, seu orçamento não precisa ser dispendioso.
Alfred Abel - Johhah "Joh" Fredersen
Gustav Fröhlich - Freder Fredersen
Brigitte Helm - Maria / Robô
NOSSA NOTA: 9,3 Tak
Excepcional no filme: Como inovou no cenário e efeitos especiais / Expressionismo Alemão implantado.
Frase Marcante: "The mediator between head and hands must be the heart!"
Análise crítica do filme Metropolis, de Fritz Lang
por Mr. Raccoon
Filme alemão lançado em 1927, Metropolis foi a inspiração de diversos filmes feitos até hoje. Foi dirigido por Fritz Lang, austríaco, que implantou o célebre expressionismo alemão nesta sua obra que foi uma das primeiras sci-fi já feitas. Ela retomou a tecnologia originalmente publicada por H. G. Wells em The Time Machine, livro que proporcionou mais dezenas de filmes.
Em Metropolis a sociedade apresenta um despotismo claro, em que uma classe social mais rica exerce poder até mesmo proprietário sobre a classe de trabalhadores. Os líderes fundadores trabalham na chamada Torre de Babel, edifício cérebro da cidade. Seu design foi inspirado na pintura de mesmo nome do pintor flamenco Peter Brueghel. Na Bíblia cristã essa torre foi construída após o dilúvio que dizimou a Terra, e o povo queria se certificar que viveria caso isso acontecesse novamente, então chegaram à solução de construir um edifício tão alto que tocaria as estrelas. Então é possível deduzir que, no filme, a sociedade estava tão degradada e a vida estava tão difícil que uma elite decidiu mudar tudo para melhor e se certificar que a sociedade não atingiria o ponto em que estava anteriormente. E, apenas como um símbolo, construíram a Torre de Babel, pois através dela e de seu funcionamento o mundo poderia viver de forma aprazível.
Os filhos dos fundadores da cidade não precisam trabalhar e podem desfrutar do Clube dos Filhos, um lugar hedonístico em que se pode relaxar e aproveitar a vida. Mas como se isso não fosse suficiente, há mais um espaço para agradar os afortunados filhos: Os Jardins Eternos. Dando-nos a idéia de um mundo perfeito, temos essa referência ao Jardim do Éden, lugar bíblico em que o homem e a mulher foram criados. E é neste lugar que Freder, filho do homem mais poderoso da Metrópole, conhece Maria, operária por quem se apaixona.
Maria é uma dos trabalhadores do subterrâneo, que devem operar máquinas 24 horas por dia para manter a refulgência da cidade. E é possível ver agora que há um lado obscuro por trás da gloriosa Metrópole: enquanto aqueles que têm mais poder podem viver em uma sociedade que apresenta todos os privilégios futurísticos, outros vivem nos subterrâneos desfrutando de todos os desagrados oferecidos pelo avanço da tecnologia.
Podemos ver como o Homem passa a depender drasticamente das máquinas no futuro. Ele vive em uma comodidade tão grande que não consegue mais viver sozinho, e é isso o que acontece quando tentamos melhorar nossa qualidade de vida sem pensar nas possíveis conseqüências. Na nossa época atual já estamos vivendo em uma sociedade que depende de computadores para o seu bom funcionamento, e que sem eles seria implantado o caos total no mundo. A Natureza provê para o Homem tudo que é necessário para sua sobrevivência, e apesar disso ele tem toda a capacidade que precisa para viver bem e harmoniosamente com a tecnologia, mas não sabe usar esse potencial.
Logo no início do filme vemos os operários entrando e saindo da fábrica, aqueles que entram andando mais rápido e os outros que saem do seu turno andam de forma cansada e devagar. É interessante ouvir a trilha sonora nestas cenas, pois ela assemelha-se a uma marcha fúnebre, ou seja, os trabalhadores não estão mais cientes e acordados para o que está acontecendo, e sim mortos, apenas cumprindo seus deveres sem contestar o motivo.
E quando esses pobres trabalhadores entram no elevador que os levará para seu destino, grades se levantam para proteger os que estão dentro, mas também nos remetendo à imagem de uma jaula, que prende e não dá alternativa àqueles que nela estão. Chegando ao lugar de trabalho, os funcionários labutam incansável e ritmicamente, com seus corpos viciados e acostumados àquilo que fazem, evidenciando como com o tempo aqueles homens se integraram de forma tão extrema aos seus serviços que agora nem parecem mais pessoas, e sim meras máquinas, situação que Charles Chaplin retoma mais a frente em um dos seus filmes[1].
O expressionismo alemão está fortemente presente neste filme. Tomemos Freder como exemplo: sua maquiagem é forte, com sobrancelhas delineadas e pele pálida; seus movimentos são rápidos e suas atitudes dramáticas e efusivas; quando percebe que está apaixonado, Freder põe a mão sobre o peito; e quando fala com alguém, o segura pelos braços e fala como se o que estivesse dizendo fosse a coisa mais importante do mundo. Acredito que esse Expressionismo seja muito útil ao cinema mudo: já que não podemos entender o que está acontecendo pela fala, temos que ler a música e a atuação dos protagonistas. Não que isso seja necessário, pois Chaplin não precisou agir tão efusivamente, mas certamente ajuda e é uma boa característica para a visualização do filme.
Quando Freder está em seu Jardim Eterno, ele conhece Maria, que está levando crianças para conhecer o mundo acima do delas. Mas por serem de uma classe inferior, elas são obrigadas a ir embora. Porém Freder estranha a situação e procura saber quem era aquela mulher que o encantara. E acaba descobrindo todo o mundo que existe além do seu, em que outros labutam para fazer com que ele viva bem. Freder sai da caverna em que vivia. Mas não é tão fácil entender como e porque tudo aquilo acontece, então ele busca a verdade. E quando acha se indigna com ela. E, como forma de protesto, troca de lugar com um dos trabalhadores, e passa a agir e se vestir como um dos operários. Ele, mesmo sem ser obrigado, ajuda e sofre no lugar de pessoas menos poderosas do que ele, nos lembrando do que Jesus fez pelos humanos quando morreu.
Uma cena interessante é quando Freder encontra pela primeira vez a máquina M, a mais importante de todas. Freder fica tão impressionado que começa a sofrer alucinações e ver um tipo de esfinge no lugar da máquina M. Essa estátua que ele vê é Moloch, deus mencionado na Bíblia, a quem pessoas sacrificavam seus próprios filhos. Ou seja, os líderes da Metrópole estavam sacrificando pessoas como que adorando as máquinas. Sacrificando humanos para terem algo em troca, no caso o funcionamento da cidade.
Apesar dos operários parecerem mortos, quando se encontravam em reuniões ficavam bem animados. Maria pregava para eles que um dia o Mediador chegaria e acabaria com a injustiça, e que eles deveriam ser pacientes. Esse Mediador que ela diz era aquele que iria mediar entre as mãos e o coração. A frase que inspirava esse movimento era: “O mediador entre as mãos e a cabeça deve ser o coração”. Interessante notar que esse que irá mediar tem um papel de Messias, e aquela que prega chama-se Maria. Não é clara a relação entre os dois?
Durante o filme Maria é trocada por uma réplica robô malvada que instiga a revolução violenta dos trabalhadores. E a atuação de Brigitte Helm, que interpreta Maria, é fantástica. Quando ela dança para os ricos, seus movimentos são de fato estranhos e hipnotizantes. Na verdade, parece-nos que outra atriz tomou o papel de Maria, de tão contrapostas que suas atitudes são.
Quando Freder está desolado por ter perdido Maria, ele vai até um templo com sete estátuas de homens e uma estátua da Morte em um lugar de atenção. Em cima das estátuas dos homens estão escrito nomes como Neid, Zorn e Tragheit, que são pecados capitais escritos em alemão. E a Morte simboliza que quem praticar esses pecados estará condenado à morte eterna. Enquanto andando no templo, Freder também ouve alguém pregando sobre Babilônia e o fim dos tempos. Neste momento Fritz Lang faz uma associação entre a Metrópole do filme e Babilônia, símbolo da cidade corrompida pelo pecado do homem. Portanto foi inútil a construção da Torre de Babel como símbolo de que a sociedade não voltaria a sua situação degradada, pois foi essa dita melhoria que prejudicou e corrompeu a sociedade, transformando-a em uma Babilônia.
Neste filme também podemos encontrar símbolos discretos que muitas vezes nos passam despercebidos. Vemos que nas portas das casas há pentagramas desenhados, como se fossem uma marca de identificação ou até mesmo nacionalismo. Essa figura possui diversos significados, mas podemos selecionar os mais prováveis para essa situação. Sabemos que Fritz fez associações à Bíblia em outras cenas do filme, então podemos interpretar a figura segundo a cultura de países do Oriente Médio, lugar onde as Escrituras Sagradas foram escritas. Para eles o pentagrama representa o poder imperial que se espalha pelos quatro cantos do mundo, e podia ser usado na frente das casas. Porém não é simplesmente nas portas que podemos encontrar essa figura: quando o robô que iria substituir Maria estava sendo feito, havia um pentagrama de cabeça para baixo na parede atrás dela. Essa figura invertida pode simbolizar o satanismo, mas não acredito que essa foi a intenção de Fritz. Esse símbolo também representa o triunfo da Matéria sobre o Espírito, assunto tratado no filme. Os homens, em especial aqueles do subsolo, não tinham mais alma, e os poderosos não possuíam mais os princípios éticos e morais de antigamente. Agora o que importava era as máquinas, a Matéria.
Esse filme possui uma lição de moral, técnicas cinematográficas e simbologia, o que era incomum naquela época em que a história dos filmes estava apenas começando. A lição que nos é ensinada é que para haver uma sociedade próspera é necessário que aqueles que trabalham manualmente tenham alguma razão própria ou incentivo para aquilo, e os que idealizam a ação precisam de alguém para executá-la. É como as quatro causas ditas por Aristóteles. E para essas causas funcionarem o coração deve ser o mediador entre elas.
[1] CHAPLIN, Charles. Tempos Modernos. Título original: Modern Times. Preto & Branco. Duração: 87 min. Warner, 1936.