domingo, 12 de julho de 2009

Ed Wood 1994


Ano: 1994
Duração: 127 min
Direção: Tim Burton

Johnny Deep - Ed Wood
Martin Landau - Bela Lugosi
Sarah Jessica Parker - Dolores Fuller
Patricia Arquette - Kathy O'Hara
Bill Murray - Bunny Breckenridge

NOSSA NOTA: 10 tak

Excepcional no filme: Cenário e verossimilhância com todos os detalhes da história real.

Frase marcante: "Pull the string!; pull the string!"

Análise crítica do filme Ed Wood, de Tim Burton.

por Mr. Raccoon


Tim Burton sabe como fazer algo diferente. A estética de seus filmes é tão única que uma obra dele é reconhecida com apenas alguns minutos de filme. E em Ed Wood não é diferente; nele, podemos conhecer a história real do considerado – injustamente -“o pior cineasta de todos os tempos”[1], Edward Davis Wood, Jr. (1924 – 1978). No decorrer do filme acompanhamos Ed dirigindo seu primeiro filme, Glen or Glenda?, até sua obra-prima, Plan 9 from Outer Space.

O filme possui um cenário maravilhoso e um tom humorístico, apesar de ter também um lado dramático. Ed Wood era um sujeito presunçoso, porém no sentido otimista da palavra, e considerava cada improvisação de seus atores uma atuação esplêndida, devido ao realismo que elas acrescentavam no filme. Sua paixão pela lã angorá e sua cômica e irônica inspiração em Orson Welles, diretor do consagrado melhor filme de todos os tempos Citizen Kane, também está presente na retratação de Wood; e Burton soube colocar todos esses detalhes de forma clara, direta e engraçada em sua obra.

Nas primeiras cenas do filme a câmera se aproxima lentamente de uma casa sombria, abandonada e entra pela janela, parando perto de um caixão se abrindo. Logo aí, e não sei se foi feito de propósito, há uma paródia das cenas inicias de Citizen Kane, que foi quem inventou esta técnica de aproximação. E a partir daí presenciamos a bizarra vida do diretor revolucionário tentando gravar seus filmes. A cada vez que assistimos a Ed dirigindo uma cena, podemos ver que Tim Burton fez tudo para que o cenário se assemelhasse ao real, e até mesmo alguns atores, como o lutador de luta livre Tor Johnson e o aterrorizante Bela Lugosi, são muito parecidos com as personagens da vida real.

Algo interessante no filme é que ele foi rodado inteiramente em preto-e-branco, apesar de ele ter sido filmado na década de 1990; o que foi um toque bom do diretor para nos lançar a idéia de que a história do filme se passa na década de 1950. Os cortes de cena são perfeitos, e todo o cenário do filme foi preparado cuidadosamente, com destaque no excelente trabalho feito na Spook House: o jogo entre sombras e os padrões de luz profusos, os ângulos confuso, fortes, as referência a Edvard Munch e o estilo noir empregado acentuam o ambiente assustador do lugar. E, como outras coisas citadas acima, o expressionismo alemão tão adorado por Burton está presente, desde o cenário e a maquilagem até a atuação de Johnny Deep, que, por sinal, foi incrível. Vale comentar que a feição já maquiada de Deep nesse filme nos remete a de Freder, protagonista de Metropolis, de Fritz Lang. É interessante que o responsável pelo cenário do filme estava tão apaixonado pelo filme que acrescentou até certos detalhes mínimos, porém não inúteis, como, por exemplo, a abundância de discos nas cenas, sejam eles lâmpadas ou OVNI’s.

Martin Landau, que interpreta o eterno Bela Lugosi, ator que viveu o primeiro Drácula no cinema, também marcou na atuação. O trabalho dos maquiladores foi essencial ao resultado, mas Landau incorporou terrificamente à personagem, com uma atuação engraçada, mas que honra e que nos faz ter um afeto pelo problemático ator decadente, e é digna da aprovação do próprio Bela.



Outro ponto importante a ressaltar é a trilha sonora, que nos remete a filmes como Plan 9 from Outer Space e outros do gênero. O instrumento utilizado nesses filmes foi o theremin, que é o que causa o clássico som alien. E para fazer jus à sua capacidade de perfeição, a equipe de Tim Burton completou o difícil trabalho de achar um desses belos instrumentos musicais especialmente para a gravação da trilha sonora de Ed Wood.

Sempre gosto também quando um filme, mesmo possuindo uma longa duração como este (127 minutos), faz com que ela passe despercebida, pois o enredo é tão cativante que nos deixa até tristes quando chega ao fim. Essa é uma qualidade difícil de se encontrar em filmes hoje em dia, que duram 90 minutos e são feitos apena para o ganho de dinheiro.

Ao unirmos todos os elementos supracitados temos como resultado um filme que não é apenas mais um do tipo, mas é também uma homenagem carinhosa que, apesar de ser humorística, não ridiculariza o homem que mudou para sempre o cinema: Ed Wood.


[1] Como publicado no livro “The Golden Turkey Award”.





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