Duração: 148 min
Direção: Stanley Kubrik
Keir Dullea - David Bowman
Douglas Rain - HAL 9000
Gary Lockwood - Frank Poole
NOSSA NOTA: 10 tak
Análise crítica do filme 2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrik
por Mr. Raccoon
O filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, com direção, produção e co-roteiro de Stanley Kubrik, foi lançado em 1968. É um filme que possui diversas interpretações religiosas, filosóficas e até mesmo políticas, e por isso cada pessoa vê essa obra de um jeito diferente.
Nos primeiros minutos do filme não vemos nada mais do que uma tela preta, simbolizando que no princípio não havia nada, absolutamente nada no Universo. Mas então o sistema solar nos é apresentado, e clássica trilha sonora inicia. A primeira cena começa com o alvorecer do homem, ou seja, o início de tudo, quando os humanos ainda não tinham evoluído por completo. Kubrik logo no início demonstra suas habilidades ao nos mostrar paisagens incríveis possivelmente africanas – no filme -, já que aquela espécie de seres, os australopithecus africanus, vivia nas regiões que atualmente conhecemos como africanas. Acredito que esse é um filme com muitas paisagens e relativamente poucas falas pois Stanley queria de certa forma testar a tecnologia que implantava e que ainda era nova. Mas todas elas também nos ajudam a nos situar na época, lugar e enredo.
Podemos ver que o "homem" convivia harmoniosamente com os outros animais, mas com o passar do tempo começa a ter certa hostilidade a seres que não são iguais a ele. Característica que humanos possuem até hoje. À noite, os australopithecus ficam em lugares cobertos e sentem um claro medo do escuro, representando como os homens, ou pelo menos a maioria deles, temem e sempre temeram àquilo que não conhecem direito.
E não é diferente quando algo incomum chega e é deliberadamente enterrado perto dos medrosos seres. É um monólito negro, geometricamente perfeito e grande, que chama a atenção de todos, que muito lentamente chegam perto até que tocam o objeto. Então temos a visão do monólito alinhando-se perfeitamente com o Sol e a Lua. Pouco tempo depois um membro do grupo de selvagens descobre que um osso pode ser usado como ferramenta. E como uma crítica de Kubrik ao homem, ao invés de usá-la como algo bom, a usa para matar não só animais como também outros de sua mesma espécie. Ou seja, o homem, desde os primórdios de sua existência, tende a ter uma postura violenta.
É indubitável que o maior corte temporal do cinema encontra-se nesse filme. Quando o africanus lança o osso, que ele tinha usado para matar, para cima, temos um flash-foward e não é o osso que cai de volta ao chão, e sim uma base espacial que flutua no universo. Podemos pensar que é isso é uma coisa simples e fácil, e sua edição realmente é e foi na época, mas sua idéia é simplesmente incrível, e poucos cineastas poderiam ter pensado em algo parecido.
A trilha sonora desse filme é tão boa quanto sua estética e roteiro. No início do filme já podemos ouvir a peça mais famosa, Also sprach Zaratustra, de Richard Strauss, que consegue apenas com sons representar o alvorecer da manhã e do homem. O nome dessa peça é também o nome da obra mais famosa de Friedrich Nietzsche, que fala justamente de como o homem é um estado transitório entre o macaco e o Übermensch, e deve evoluir até chegar ao seu máximo, o super-homem. A música começa em um ritmo lento e baixo até atingir um volume alto e forte, assim como os humanos devem ser.
E depois, quando vamos ao espaço sideral, ouvimos An der schönen blauen Donau, ou O Danúbio Azul, de Johann Strauss II. Esta é a valsa mais famosa de todos os tempos, e ao ouvi-la como fundo musical de cenas espaciais temos a impressão de que todos os planetas, estrelas e corpos celestes relacionam-se perfeita e harmoniosamente, como que regidos pelo grande maestro do universo. E quando temos a visão de dentro de uma nave e de uma moça andando graciosamente com sapatos que lembram sapatilhas de ballet, nossa sensação inexplicavelmente única aumenta. Na verdade, a moça com as sapatilhas anda de um modo diferente por causa do sistema anti-gravitacional da nave, mas foi uma referência agradável à música.
O homem foi feito para viver na Terra, e ao viver no espaço está fora do seu habitat natural, então precisa reaprender coisas simples que ele já dominava no seu planeta natal. Por exemplo, no espaço, os humanos tiveram que aprender a andar de novo, a usar o banheiro de novo, como vemos na placa ao lado do toalete que aparece no filme, e até volta a comer alimentos não-sólidos, "papinhas", como se fosse um bebê. Portanto, se quisermos avançar até lugares além do nosso limite, precisaremos começar de novo e fazer certos sacrifícios.
Todo o cenário da parte de dentro das naves é fantástico, até mesmo pequenos detalhes, e é possível observar como a tecnologia evoluiu, com telefones em vídeo que possibilitam o contato entre partes separadas por distâncias muito maiores do que aquelas que podemos atingir hoje. Podemos ver como Stanley Kubrik se preocupou em fazer tudo coerente com o futuro, inclusive coisas que muitos nem mesmo reparariam se ele não o tivesse feito. Tudo pertence a uma curiosa ordem e simetria, com objetos retangulares e circulares, perfeitos.
Uma questão levantada pelo filme é o que poderia ter acontecido com a Terra. Será que ela ainda existia inteiramente, ou será que foi destruída por alguma grande guerra? Ouvimos uma das personagens dizendo que voltaria para os EUA, mas talvez a América seja apenas mais uma base espacial.
Podemos acompanhar por um breve tempo Heywood R. Floyd, que está em uma missão misteriosa. Quando ele recebe a notícia de que algo foi descoberto na Lua, um monólito, Floyd vai investigá-lo com seus companheiros. Chegando lá, todos ficam curiosos e visivelmente assustados, porém de forma comportada, diferente dos primatas. Heywood toca o objeto retangular. Ele é frio e sólido. Como se fossem turistas, os viajantes chegam a tirar uma foto com o monólito. Mas a rocha novamente é alinhada com o Sol e um barulho ensurdecedor dispara, como um alarme. Mas por que esse mesmo barulho não soou quando os antepassados do homem se depararam com ele? Talvez porque agora o monólito tivesse atingido o seu objetivo, que possivelmente era encontrar vida inteligente. Os australopithecus não estavam prontos quando o conheceram.
Então damos um salto no tempo avançando 18 meses, e conhecemos HAL 9000, um computador com capacidade cerebral elevada e que é responsável pelo "sistema nervoso" da Discovery, a nave que levará Dave Bowman e seus companheiros a Júpiter. O nome da máquina já é interessante: H, A e L são as três letras que intercedem I, B e M (IBM), a maior empresa de computadores da época em que o filme foi feito. HAL, apesar de não ter muito tempo de ação no filme, é considerado um dos maiores vilões do cinema por seu poder e frieza, e essa falta de emoções é o que põe os tripulantes da Discovery em perigo, já que por mais que eles implorem por misericórdia, HAL 9000 não os dará ouvido. A menos, claro, que eles dêem razões lógicas e racionais para terem suas vidas poupadas.
Nos primeiros minutos do filme não vemos nada mais do que uma tela preta, simbolizando que no princípio não havia nada, absolutamente nada no Universo. Mas então o sistema solar nos é apresentado, e clássica trilha sonora inicia. A primeira cena começa com o alvorecer do homem, ou seja, o início de tudo, quando os humanos ainda não tinham evoluído por completo. Kubrik logo no início demonstra suas habilidades ao nos mostrar paisagens incríveis possivelmente africanas – no filme -, já que aquela espécie de seres, os australopithecus africanus, vivia nas regiões que atualmente conhecemos como africanas. Acredito que esse é um filme com muitas paisagens e relativamente poucas falas pois Stanley queria de certa forma testar a tecnologia que implantava e que ainda era nova. Mas todas elas também nos ajudam a nos situar na época, lugar e enredo.
Podemos ver que o "homem" convivia harmoniosamente com os outros animais, mas com o passar do tempo começa a ter certa hostilidade a seres que não são iguais a ele. Característica que humanos possuem até hoje. À noite, os australopithecus ficam em lugares cobertos e sentem um claro medo do escuro, representando como os homens, ou pelo menos a maioria deles, temem e sempre temeram àquilo que não conhecem direito.
E não é diferente quando algo incomum chega e é deliberadamente enterrado perto dos medrosos seres. É um monólito negro, geometricamente perfeito e grande, que chama a atenção de todos, que muito lentamente chegam perto até que tocam o objeto. Então temos a visão do monólito alinhando-se perfeitamente com o Sol e a Lua. Pouco tempo depois um membro do grupo de selvagens descobre que um osso pode ser usado como ferramenta. E como uma crítica de Kubrik ao homem, ao invés de usá-la como algo bom, a usa para matar não só animais como também outros de sua mesma espécie. Ou seja, o homem, desde os primórdios de sua existência, tende a ter uma postura violenta.
É indubitável que o maior corte temporal do cinema encontra-se nesse filme. Quando o africanus lança o osso, que ele tinha usado para matar, para cima, temos um flash-foward e não é o osso que cai de volta ao chão, e sim uma base espacial que flutua no universo. Podemos pensar que é isso é uma coisa simples e fácil, e sua edição realmente é e foi na época, mas sua idéia é simplesmente incrível, e poucos cineastas poderiam ter pensado em algo parecido.
A trilha sonora desse filme é tão boa quanto sua estética e roteiro. No início do filme já podemos ouvir a peça mais famosa, Also sprach Zaratustra, de Richard Strauss, que consegue apenas com sons representar o alvorecer da manhã e do homem. O nome dessa peça é também o nome da obra mais famosa de Friedrich Nietzsche, que fala justamente de como o homem é um estado transitório entre o macaco e o Übermensch, e deve evoluir até chegar ao seu máximo, o super-homem. A música começa em um ritmo lento e baixo até atingir um volume alto e forte, assim como os humanos devem ser.
E depois, quando vamos ao espaço sideral, ouvimos An der schönen blauen Donau, ou O Danúbio Azul, de Johann Strauss II. Esta é a valsa mais famosa de todos os tempos, e ao ouvi-la como fundo musical de cenas espaciais temos a impressão de que todos os planetas, estrelas e corpos celestes relacionam-se perfeita e harmoniosamente, como que regidos pelo grande maestro do universo. E quando temos a visão de dentro de uma nave e de uma moça andando graciosamente com sapatos que lembram sapatilhas de ballet, nossa sensação inexplicavelmente única aumenta. Na verdade, a moça com as sapatilhas anda de um modo diferente por causa do sistema anti-gravitacional da nave, mas foi uma referência agradável à música.
O homem foi feito para viver na Terra, e ao viver no espaço está fora do seu habitat natural, então precisa reaprender coisas simples que ele já dominava no seu planeta natal. Por exemplo, no espaço, os humanos tiveram que aprender a andar de novo, a usar o banheiro de novo, como vemos na placa ao lado do toalete que aparece no filme, e até volta a comer alimentos não-sólidos, "papinhas", como se fosse um bebê. Portanto, se quisermos avançar até lugares além do nosso limite, precisaremos começar de novo e fazer certos sacrifícios.
Todo o cenário da parte de dentro das naves é fantástico, até mesmo pequenos detalhes, e é possível observar como a tecnologia evoluiu, com telefones em vídeo que possibilitam o contato entre partes separadas por distâncias muito maiores do que aquelas que podemos atingir hoje. Podemos ver como Stanley Kubrik se preocupou em fazer tudo coerente com o futuro, inclusive coisas que muitos nem mesmo reparariam se ele não o tivesse feito. Tudo pertence a uma curiosa ordem e simetria, com objetos retangulares e circulares, perfeitos.
Uma questão levantada pelo filme é o que poderia ter acontecido com a Terra. Será que ela ainda existia inteiramente, ou será que foi destruída por alguma grande guerra? Ouvimos uma das personagens dizendo que voltaria para os EUA, mas talvez a América seja apenas mais uma base espacial.
Podemos acompanhar por um breve tempo Heywood R. Floyd, que está em uma missão misteriosa. Quando ele recebe a notícia de que algo foi descoberto na Lua, um monólito, Floyd vai investigá-lo com seus companheiros. Chegando lá, todos ficam curiosos e visivelmente assustados, porém de forma comportada, diferente dos primatas. Heywood toca o objeto retangular. Ele é frio e sólido. Como se fossem turistas, os viajantes chegam a tirar uma foto com o monólito. Mas a rocha novamente é alinhada com o Sol e um barulho ensurdecedor dispara, como um alarme. Mas por que esse mesmo barulho não soou quando os antepassados do homem se depararam com ele? Talvez porque agora o monólito tivesse atingido o seu objetivo, que possivelmente era encontrar vida inteligente. Os australopithecus não estavam prontos quando o conheceram.
Então damos um salto no tempo avançando 18 meses, e conhecemos HAL 9000, um computador com capacidade cerebral elevada e que é responsável pelo "sistema nervoso" da Discovery, a nave que levará Dave Bowman e seus companheiros a Júpiter. O nome da máquina já é interessante: H, A e L são as três letras que intercedem I, B e M (IBM), a maior empresa de computadores da época em que o filme foi feito. HAL, apesar de não ter muito tempo de ação no filme, é considerado um dos maiores vilões do cinema por seu poder e frieza, e essa falta de emoções é o que põe os tripulantes da Discovery em perigo, já que por mais que eles implorem por misericórdia, HAL 9000 não os dará ouvido. A menos, claro, que eles dêem razões lógicas e racionais para terem suas vidas poupadas.
Por ser um computador racional, HAL vê os humanos como seres miseráveis que agem conforme suas emoções e não conseguem nem mesmo entender os pensamentos dele. E, apesar disso, parece ser a criatura mais sensível da espaçonave, com o falar mais terno e carinhoso. Ele inclusive dá os parabéns a Frank, que demonstra não sentir emoções ao ouvir as mesmas congratulações de seus pais. A série 9000 é incapaz de falhar, acreditava-se, mas indo contra as estatísticas, HAL comete um erro, e Bowman e Frank decidem desligá-lo. Quando o computador descobre, ele mata os tripulantes que estavam hibernando e solta Frank no espaço sideral, que também morre. Apenas Dave sobrevive, mas por estar preso do lado de fora e HAL 9000 ser o responsável por abrir as portas, não há muito que ele possa fazer. E, além disso, a única entrada que pode ser usada sem o consentimento de HAL dá para uma câmara a vácuo, que poderia matar Bowman. Mas então a diferença entre homem e máquina aparece: Dave se arrisca e entra na estação Discovery pela câmara. HAL, por ser um ser racional, não consegue entender porque alguém arriscaria sua vida assim, e então ele que fica sem reação, apenas implorando por sua vida. E ao implorar diz estar com medo. Será que a máquina seria mesmo apta a desenvolver emoções?
Algo interessante para se notar é a ferramenta usada para "matar" o poderoso vilão. A tecnologia havia desenvolvido incrivelmente, e a Discovery era um exemplo disso. Mas o problema era que todos esses recursos eram controlados por HAL, então o que seria útil? Uma chave de fenda. Sim, a mais simples e antiga das ferramentas criadas pelo homem foi usada para destruir a mais complexa delas. Irônico. E Kubrik deixa a mensagem de que os humanos podem evoluir e criar coisas fantásticas, mas aquilo que faz parte do nosso lado mais simples e básico é o que prevalece e pode ter confiança. Afinal, uma chave de fenda nunca iria dominar o mundo.
Ao matar HAL 9000, Bowman descobre o verdadeiro objetivo da sua missão, que é se encontrar com possíveis forças inteligentes de Júpiter que haviam enviado uma sentinela, aquele monólito, para a Terra e para a Lua. Então a parte bizarra do filme começa: além do infinito. Bowman viaja tendo vista de paisagens - na verdade terrestres - coloridas exageradamente, enviando a nossos olhos miríades de cores, dando-nos a impressão de que estamos sofrendo alucinações. E as cenas são essas durante um longo tempo do filme. Só essas. Mas as imagens começam a se distorcer e até mesmo Bowman tem sua aparência mudada É fato que ao aproximar-se de um corpo celeste a gravidade puxa qualquer objeto ao seu redor com uma velocidade incrível, e é isso que acontece com Dave e sua cápsula espacial.
Porém Bowman parece ter atingido uma velocidade tão alta que atravessa as barreiras da nossa dimensão e invade outra. Assim, out of the blue, Dave aparece em uma sala branca, estéril, junto com sua cápsula, e ao sair dela está claramente mais velho. Ele está com medo e aparenta não conhecer o lugar onde está, e podemos ouvir gritos ou gemidos. Ele anda até uma sala e vê um homem sentado a uma mesa. Quando esse homem vira, descobrimos que ele é o próprio Dave, só que ainda mais velho. Esse homem se vira, olha sua versão rejuvenescida e levanta como se fosse falar com ele, mas não. Imediatamente o jovem Dave some e o idoso volta até o seu quarto, como se não tivesse visto nada. Ele se senta e começa a comer, mas acidentalmente derruba uma taça de vinho. Quando ele se abaixa para pegar a taça, Bowman se depara com um homem bem idoso deitado em uma cama. Novamente a versão mais nova some e a única que podemos ver é a mais envelhecida. E quando você começa a pensar no que poderá acontecer a seguir, o monólito reaparece, bem ali na frente da cama. Como aqueles que o antecederam, o velho tenta tocar a rocha, mas não consegue, pois ela está longe. Mas algo substitui o idoso na cama: um feto, que se aproxima do monólito e como se o atravessasse ele volta às redondezas da Terra.
Agora pensemos: para passar para um próximo estágio de sua vida, Dave precisava olhar a si mesmo. Então por que ele conseguiu ultrapassar o tempo e virar um feto? Com as informações que temos é possível supor que o monólito fosse como um espelho. Lembrando de Sócrates, "conhece-te a ti mesmo", concluímos que Bowman evoluiu, pois ele "se viu", se conheceu, e o conhecimento leva ao desenvolvimento e dá poder. Então o monólito representaria o "conhecer". Toda vez que a rocha aparecia, uma nova parte do filme começava e encontrávamos uma sociedade mais desenvolvida. È importante ressaltar, porém, que Kubrik, apesar de possivelmente ter feito essa relação com o antigo filósofo grego, parece discordar de um de seus ensinamentos: a idéia de que conhecimento é diretamente proporcional a virtudes. Quando o primata encontra conhecimento, ele evolui, mas não usa o seu saber para o bem, e sim para o mal. E após o aparecimento do monólito na Lua o Homem parece ficar mais sábio, porém mais frio e distante de seus semelhantes. O pesquisador Floyd conversa e se diverte com uma amiga que reencontra na estação que ele visita, mas Frank e Dave não têm a intimidade que se espera entre dois parceiros de viagem.
Mas o que deixa muitos em dúvida é o feto que aparece frente ao monólito. O que ele representaria? O feto é o Übermensch descrito por Nietzsche em sua famosa obra Also Sprach Zaratustra. A Star-Child, nome dado ao feto no livro do filme, representa o estado maior do homem. Nietzsche disse que o espírito do Übermensch seria como o de uma criança, ou seja, inocente e misericordioso. E essa Star-Child, que é o próprio David Bowman renascido, volta à Terra na cena final. Essa situação é descrita por Nietzsche como: "o espírito agora controla suas próprias vontades, e ele que antes estava perdido do mundo agora conquista seu próprio mundo". David Bowman, que antes estava em sua odisséia, perdido no espaço, voltou a seu planeta natal para agora dominá-lo, já que ele conseguiu evoluir ao estágio mais desenvolvido do Homem. E com o controle do mundo em suas mãos, Dave o dominará como o governante-filósofo da República de Platão, com classe, coragem, força, inteligência, tudo em um.
É curioso notar o nome dessa última parte do filme: Júpiter e além do infinito. Primeiramente entende-se que Bowman conseguiu chegar a Júpiter, seu destino, mas foi além disso. Foi além do infinito. E, como o Übermensch de Nietzsche, iria além do bem e do mal. O que explica o título.
Nota-se também que a cada fase do filme uma nova e melhorada forma de ser nos é apresentada. No início vemos primatas, depois humanos normais, em seguida conhecemos HAL 9000 e por último a Star-Child. Outro detalhe implantado cuidadosamente pelo mestre Stanley Kubrik.
Porém a mensagem principal, dentre tantas que podemos captar, deixada no final dessa obra-prima é que o Homem tende naturalmente a evoluir e desenvolver não só a si mesmo como também as coisas ao seu redor, e às vezes essas criações fogem de seu controle. Por isso certos limites têm que ser respeitados, pois só alguns seres são aptos a ultrapassá-los, os seres que se aproximam do Übermensch. E é por essa razão que só quando nós aprendermos a nos controlar verdadeiramente é que teremos a capacidade necessária para controlar o mundo.
por Mr. Raccoon
Algo interessante para se notar é a ferramenta usada para "matar" o poderoso vilão. A tecnologia havia desenvolvido incrivelmente, e a Discovery era um exemplo disso. Mas o problema era que todos esses recursos eram controlados por HAL, então o que seria útil? Uma chave de fenda. Sim, a mais simples e antiga das ferramentas criadas pelo homem foi usada para destruir a mais complexa delas. Irônico. E Kubrik deixa a mensagem de que os humanos podem evoluir e criar coisas fantásticas, mas aquilo que faz parte do nosso lado mais simples e básico é o que prevalece e pode ter confiança. Afinal, uma chave de fenda nunca iria dominar o mundo.
Ao matar HAL 9000, Bowman descobre o verdadeiro objetivo da sua missão, que é se encontrar com possíveis forças inteligentes de Júpiter que haviam enviado uma sentinela, aquele monólito, para a Terra e para a Lua. Então a parte bizarra do filme começa: além do infinito. Bowman viaja tendo vista de paisagens - na verdade terrestres - coloridas exageradamente, enviando a nossos olhos miríades de cores, dando-nos a impressão de que estamos sofrendo alucinações. E as cenas são essas durante um longo tempo do filme. Só essas. Mas as imagens começam a se distorcer e até mesmo Bowman tem sua aparência mudada É fato que ao aproximar-se de um corpo celeste a gravidade puxa qualquer objeto ao seu redor com uma velocidade incrível, e é isso que acontece com Dave e sua cápsula espacial.
Porém Bowman parece ter atingido uma velocidade tão alta que atravessa as barreiras da nossa dimensão e invade outra. Assim, out of the blue, Dave aparece em uma sala branca, estéril, junto com sua cápsula, e ao sair dela está claramente mais velho. Ele está com medo e aparenta não conhecer o lugar onde está, e podemos ouvir gritos ou gemidos. Ele anda até uma sala e vê um homem sentado a uma mesa. Quando esse homem vira, descobrimos que ele é o próprio Dave, só que ainda mais velho. Esse homem se vira, olha sua versão rejuvenescida e levanta como se fosse falar com ele, mas não. Imediatamente o jovem Dave some e o idoso volta até o seu quarto, como se não tivesse visto nada. Ele se senta e começa a comer, mas acidentalmente derruba uma taça de vinho. Quando ele se abaixa para pegar a taça, Bowman se depara com um homem bem idoso deitado em uma cama. Novamente a versão mais nova some e a única que podemos ver é a mais envelhecida. E quando você começa a pensar no que poderá acontecer a seguir, o monólito reaparece, bem ali na frente da cama. Como aqueles que o antecederam, o velho tenta tocar a rocha, mas não consegue, pois ela está longe. Mas algo substitui o idoso na cama: um feto, que se aproxima do monólito e como se o atravessasse ele volta às redondezas da Terra.
Agora pensemos: para passar para um próximo estágio de sua vida, Dave precisava olhar a si mesmo. Então por que ele conseguiu ultrapassar o tempo e virar um feto? Com as informações que temos é possível supor que o monólito fosse como um espelho. Lembrando de Sócrates, "conhece-te a ti mesmo", concluímos que Bowman evoluiu, pois ele "se viu", se conheceu, e o conhecimento leva ao desenvolvimento e dá poder. Então o monólito representaria o "conhecer". Toda vez que a rocha aparecia, uma nova parte do filme começava e encontrávamos uma sociedade mais desenvolvida. È importante ressaltar, porém, que Kubrik, apesar de possivelmente ter feito essa relação com o antigo filósofo grego, parece discordar de um de seus ensinamentos: a idéia de que conhecimento é diretamente proporcional a virtudes. Quando o primata encontra conhecimento, ele evolui, mas não usa o seu saber para o bem, e sim para o mal. E após o aparecimento do monólito na Lua o Homem parece ficar mais sábio, porém mais frio e distante de seus semelhantes. O pesquisador Floyd conversa e se diverte com uma amiga que reencontra na estação que ele visita, mas Frank e Dave não têm a intimidade que se espera entre dois parceiros de viagem.
Mas o que deixa muitos em dúvida é o feto que aparece frente ao monólito. O que ele representaria? O feto é o Übermensch descrito por Nietzsche em sua famosa obra Also Sprach Zaratustra. A Star-Child, nome dado ao feto no livro do filme, representa o estado maior do homem. Nietzsche disse que o espírito do Übermensch seria como o de uma criança, ou seja, inocente e misericordioso. E essa Star-Child, que é o próprio David Bowman renascido, volta à Terra na cena final. Essa situação é descrita por Nietzsche como: "o espírito agora controla suas próprias vontades, e ele que antes estava perdido do mundo agora conquista seu próprio mundo". David Bowman, que antes estava em sua odisséia, perdido no espaço, voltou a seu planeta natal para agora dominá-lo, já que ele conseguiu evoluir ao estágio mais desenvolvido do Homem. E com o controle do mundo em suas mãos, Dave o dominará como o governante-filósofo da República de Platão, com classe, coragem, força, inteligência, tudo em um.
É curioso notar o nome dessa última parte do filme: Júpiter e além do infinito. Primeiramente entende-se que Bowman conseguiu chegar a Júpiter, seu destino, mas foi além disso. Foi além do infinito. E, como o Übermensch de Nietzsche, iria além do bem e do mal. O que explica o título.
Nota-se também que a cada fase do filme uma nova e melhorada forma de ser nos é apresentada. No início vemos primatas, depois humanos normais, em seguida conhecemos HAL 9000 e por último a Star-Child. Outro detalhe implantado cuidadosamente pelo mestre Stanley Kubrik.
Porém a mensagem principal, dentre tantas que podemos captar, deixada no final dessa obra-prima é que o Homem tende naturalmente a evoluir e desenvolver não só a si mesmo como também as coisas ao seu redor, e às vezes essas criações fogem de seu controle. Por isso certos limites têm que ser respeitados, pois só alguns seres são aptos a ultrapassá-los, os seres que se aproximam do Übermensch. E é por essa razão que só quando nós aprendermos a nos controlar verdadeiramente é que teremos a capacidade necessária para controlar o mundo.
por Mr. Raccoon
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